
Restava, apenas, um menstruado som, até que a noite desse à luz o dia. E eu levantei-me, antes mesmo de o despertador tocar. Nem é costume. (O que é o costume?) Mas ele tocou, impertinente, ainda assim, sabendo-me apática, julgando-me morta. Ah, é verdade, não estás cá. Emigraste. Nós somos o verdadeiro drama da emigração. Fui tomar um café, hábito que tu me instituíste. Precisava de um café para acordar. (Ainda não tinha acordado?) Mas o café não soube igual. Creio que nem a café sabia. O sabor era uma mistura de saudade e esperança, amargo à mesma. E o senhor ficou muito espantado, quando eu trauteei o meu pedido.
“- Bom dia. Queria amor e um café, se faz favor!
– Bom dia, menina. Pedimos desculpa, mas aqui não servimos amor.
– Oh!, que disparate. Julguei ter visto outra pessoa atrás do balcão.
– Não tem mal menina, pode ser que o café lhe conforte o coração.
– O que me conforta o coração não é fungível, nem consumível.
– Beba o café, menina. Tudo na vida é café. Amargo, mas necessário, escuro, mas revitalizante, tão rápido é quente, tão certo que esfria, pequeno, mas poderoso, intenso, mas perecível.
– Não quero. Esfriou.”
Esfriou, mas amanhã vai estar quente outra vez. E vou tomar o café como tu o tomas. Com a elegância que só tu tens. Com a subtileza de quem sabe sempre estar. Acompanhada de um jornal. Sem açúcar. Não obstante, levarei o pacote para casa. Vou juntar todos os pacotes para ti. Eu sei que gostas. Desses pacotes, faremos um bolo de banana e canela.
O dia já voou. Era noite, outra vez. E de tanto sofrimento que possuía, só todo é que restava.
Por: Teresa Augusta Pimenta (Jurista de formação…convicta de personalidade)