No passado dia 31 de maio, decorreu, no Pátio Luiz Costa, do Conservatório de Música de Barcelos (CMB), mais um Concerto do Ciclo “Quartas Perfeitas”, intitulado “Música e Tradição”, e desenvolvido, desta feita, em articulação com as classes de Iniciação Musical da instituição.
Numa nota, enviada pelo CMB, este refere que “Foi propósito deste projeto mostrar aos mais novos a dicotomia Música e tradição – com enfoque na Música Tradicional Portuguesa, e nas tradições Barcelenses.
A Música tradicional, tendo raízes num passado longínquo, refere-se, geralmente, à música que faz parte da tradição de um povo, duma região geográfica e de um determinado contexto social. Fruto de transmissão oral, a música tradicional sofre evolução e é flexível aos contactos e influências culturais do exterior, bem como, às mudanças socioculturais e evolução civilizacional. A grande caraterística da música tradicional é a indissolução do seu contexto. Subsistindo como uma memória no seu contexto original, representa a psicologia, um modo de vida de um povo e as lembranças de um passado remoto. A música folclórica está intimamente ligada à música tradicional e, segundo alguns autores, os dois termos acabam por se confundir. A música popular é, em grande parte, influenciada pela música tradicional – mas constituem porém, géneros distintos.
Da tradição do concelho fazem parte a criação iconográfica do Galo de Barcelos e a respetiva lenda. O concelho de Barcelos é um território com uma identidade cultural e etnológica muito forte, decorrente da variedade de artes e ofícios, dos quais se destaca, pela sua importância, a olaria. Efetivamente, o trabalho no barro ganhou tal relevância ao longo dos séculos que se tornou indissociável da história, passada e presente, desta região e das suas gentes.
E se, de entre todas as artes tradicionais, a olaria tem lugar de destaque pela sua inegável ligação à terra e ao homem, a olaria de Barcelos comprova e consolida essa importância, não só pela quantidade e qualidade de peças produzidas, mas também pela importância económica e social que esta atividade sempre teve ao longo dos tempos. Foi assim que se construiu uma tradição regional, alicerçada na terra e moldada pelo talento dos homens e mulheres que lhe dão forma, tal como aconteceu ao longo deste concerto, que numa simbiose perfeita, entre as várias interpretações do repertório tradicional e a olaria, o Artesão Carlos Macedo da Eira elaborou uma bilha, simbolizando a união destas duas artes.

Também no Figurado, a Música, como cultura, tem um papel relevante. É tradição do figurado barcelense o retrato de manifestações musicais em festas e romarias nos coretos destinados à execução das Bandas Filarmónicas. Assim, a representação etnográfica através de coretos, músicos e seus instrumentos, reflete a tradição e prática musical de cariz popular. Estes retratos de manifestações musicais populares são muito importantes para a compreensão da vivência musical na região, bem como dos seus significados e apropriações. O Figurado, além de uma forma de expressar ao mundo o modo de pensar, sentir, viver e evoluir de uma comunidade, evidencia, ainda, a forma como os artesãos de cada época representam o quotidiano do seu tempo.
Todas estas produções marcam a identidade de um concelho com um contexto socioeconómico muito ligado à arte popular. Quando falamos de Barcelos, naturalmente o tema artesanato surge lembrando um território de homens e mulheres simples que a partir das suas mãos e imaginação criaram peças de grande valor cultural que marcaram o quotidiano de cada tempo e que hoje são marcas de identidade deste concelho.
Tradições que agora cabimentamos como arte, outrora eram a forma de sobrevivência. Um trabalho duro, feito quase sempre sem meios, sem recursos, em condições precárias e em oficinas humildes, mas com a inspiração e mestria do saber fazer que, de geração em geração, fez desta terra uma terra de artesãos.
O Artesanato e a Música Tradicional Portuguesa não podem ser olhados apenas como uma herança ou recordação do passado, mas sim como um ativo que faz parte do presente e, acima de tudo, como um vetor de identidade que deve ser transportado para o futuro como bandeira e, simultaneamente, fator de diferenciação cultural no contexto cada vez mais globalizado em que vivemos.
Como o futuro está nas crianças de hoje, este projeto, pretendeu oferecer aos mais novos, e demais público presente, a oportunidade de contactar com uma das atividades laborais predominante das nossas gentes e adquirir uma vivência musical do repertório Tradicional Nacional, num momento de fruição destas duas artes: Música e Olaria (tradição)”.
Fonte e imagens: CMB.