Despedir-se…


Daqui a poucos dias, vai estar na hora de me despedir de Barcelos, das pessoas que encontrei aqui e dos lugares que, durante o ano passado, chamei casa. Normalmente, este é um momento melancólico, às vezes difícil, devido à consciência de que uma pequena parte da vida está a terminar.
Todos, num momento ou noutro, experimentámos uma despedida: despedimo-nos dos colegas de turma quando a escola acaba; despedimo-nos do nosso lar quando mudámos de casa, ou vamos estudar para outro sitio; despedimo-nos dos amigos que vão para fora; e despedimo-nos quando mudamos de cidade ou país. Para alguns corre bem. Para outros, despedir-se corre muito mal: sair de um lugar significa ir ao encontro de novas aventuras, deixando para trás algo de bom que poderia ter acontecido na terra natal, mergulhando num futuro sem certezas.
Mas como despedir-se de um ano, passado numa realidade diferente, para voltar à normalidade? Durante um ano, acontecem muitas coisas. É como um filme: a situação inicial é interrompida por um evento inesperado, a vida das personagens muda, mas no final há um novo equilíbrio – se não o equilíbrio do início da história cria-se. Durante este ano, tive muitos dias solitários, em que só queria voltar a casa, e dias cheios de entusiasmo devido às coisas boas e emocionantes que me aconteciam aqui em Portugal. Um ano passado num país diferente é como uma onda: há momentos felizes e momentos difíceis, e é preciso ter uma boa capacidade de resistência e saber ter uma visão de longo prazo e o coração aberto a novas coisas. Despedir-se de uma experiência significa alívio, saudade, tristeza para o que deixamos.
Muitas vezes, quando deixamos um lugar que não é a nossa casa, saímos daí com a sensação de que nunca mais iremos voltar. Todavia, se há algo que aprendi em todas as minhas viagens, é que um “adeus” é, realmente, um “até logo”! Hoje, o mundo está mais conetado, graças aos novos meios de comunicação e aos aviões, autocarros, comboios que chegam a todo lado, e encontrar as pessoas que moram longe de nós é mais fácil. Mas, ao mesmo tempo, acredito que se uma amizade é destinada a sobreviver, o universo vai fazer com que sobreviva. Os casos da vida são incríveis!
Uma vez, li que no mundo são necessários, no máximo, seis laços de amizade para que duas pessoas quaisquer estejam ligadas. É a teoria semiótica dos seis graus de separação. Fantasia ou verdade? No outro dia, a minha carteira estava tão cheia de papéis que já não a conseguia fechar. Ao limpá-la, encontrei as coisas mais impensáveis: bilhetes de autocarro em hebraico, um dinar da Jordânia, um pin não sei de onde, o cartão de fidelidade de uma pastelaria em Roma, o recibo de uma loja de Araçuaí – Brasil, e um papelinho com três nomes escritos. Eram os nomes de duas raparigas canadianas e um rapaz norte-americano que encontrei numa viajem no Amazonas. Andei a pesquisá-los no Facebook, e descobri que eu e uma das raparigas canadianas temos uma amizade em comum com uma colega de universidade minha. Quantas são as possibilidades de uma coisa assim acontecer? Estão a ver quão verdadeiramente pequeno é o mundo?
E uma vez voltados à nossa vida habitual, quando a experiência acaba, e o filme já chegou à diversão? Uma vez, na nossa velha vida, podemos torná-la numa vida nova, enriquecida das experiências passadas, cheia de curiosidade para novas coisas e pronta para a próxima aventura. Só mantendo o coração aberto a novas experiências é que iremos descobrir todas as surpresas que a vida nos reserva.

Por: Laura Truffarelli*.
(Voluntária do Serviço Voluntário Europeu em ação no Colégio La Salle e na SOPRO)
* A redação do artigo de opinião é única e exclusivamente da responsabilidade da autora.