O escutismo e o envolvimento dos jovens


Ivo Faria, natural de Santo Tirso, Mestre em Ciências Empresariais e Managing Partner da Escota CG.
Sempre teve a paixão pelo escutismo foi lobito, explorador, pioneiro, caminheiro e dirigente. Hoje, é o novo chefe nacional do Corpo Nacional de Escutas (CNE) e é o convidado a escrever no espaço da Intensify World no mês de novembro.
O Corpo Nacional de Escutas (CNE), fundado em 1923, tem mais de 65 mil associados, espalhados por todo o país, com mais de 1.000 grupos locais. É a maior associação de juventude de Portugal e conta com mais de 14 mil voluntários.
O CNE destina-se à formação integral de jovens, com base no método criado por Baden- Powell e no voluntariado dos seus membros. Procura desenvolver, nas crianças e nos jovens, o sentido de cidadania ativa, baseado na sua participação no desenvolvimento das suas comunidades locais, construindo neles o sentido de co-construção de um mundo melhor, a partir da sua ação local.
O CNE realiza esta missão através de um método que assenta auto-educação progressiva, baseado na educação não-formal, através da qual as crianças e os jovens são chamados a tomar o papel principal do seu próprio desenvolvimento.
Este crescimento é garantido através do empoderamento dos jovens, que são chamados a tomar parte nas decisões que afetam o dia-a-dia das suas equipas e grupos locais, regionais e nacional, definindo assim a vida da associação.
O CNE promove milhares de atividades locais todos os anos, garantindo que essas atividades, em prol do desenvolvimento das comunidades locais, sejam o palco basilar do desenvolvimento das crianças e dos jovens, do seu sentido pleno de pertença e de responsabilidade pelo desenvolvimento da comunidade.
Este trabalho é feito pelas próprias crianças e jovens, organizados em pequenos grupos. Elegendo os seus líderes, aprendem desde cedo a trabalhar numa mini-sociedade, em modelo democrático, onde a responsabilidade pelo bem-estar do grupo é partilhada entre todos. Todas as tarefas de uma atividade (animação, orçamentação, jogos, alimentação, saúde, e muitas outras) são distribuídas entre todos, fazendo com que cada um se sinta responsável pelo sucesso do todo.
Este modo de trabalho, recorrente ao longo do ano – ao longo do percurso escutista – é a base do desenvolvimento de competências técnicas, saberes e atitudes, tão necessários ao desenvolvimento integral da criança e do jovem.
Este trabalho é feito num ambiente de relação com as outras equipas (dentro e fora da comunidade escutista local, que nós designamos por Agrupamento) e com a comunidade não escutista em que o Agrupamento se insere.
Dito de outra forma, é o sentido de pertença a uma comunidade, que impele os escuteiros a desenvolver ações, projetos de melhoria e de apoio que, mais do que contribuir para o crescimento da comunidade (mundo real), ajudam o escuteiro, no seu quotidiano, a desenvolver e adquirir competências que fazem dele um cidadão do hoje, cada vez mais empenhado num mundo melhor, à escala do círculo de influência que cada equipa, cada grupo, cada Agrupamento, podem afetar positivamente.
Este modelo é fortemente potenciado pela capacidade de os jovens se sentirem – e de estarem, de facto – empoderados com o seu próprio desenvolvimento, com o desenvolvimento das suas equipas, dos seus grupos locais, das suas comunidades exteriores ao escutismo, e também da vida da Associação em que se inserem, quer ao nível regional, quer ao nível das decisões que afetam o todo do CNE. O empoderamento dos jovens, no CNE, é mais do que um meio. É um fim, uma missão. Porque acreditamos que é através dele e é nele, ao mesmo tempo, que o jovem se desenvolve e desenvolve o meio que o rodeiam.