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João Cardoso

A Resiliência do Desperdício

Junho 7, 2021 em Atualidade, Concelho, Opinião Por barcelosnahorabarcelosnahora

O Plano de Recuperação e Resiliência Económica é mais um exemplo de como o estado português gasta os apoios europeus de uma maneira completamente ineficaz em “investimentos” que não vão a lado nenhum, e que muitas das vezes servem apenas propósitos políticos, para empurrar a ideologia ou para ganhar votos. E a Câmara de Barcelos não é exceção. Os contributos da mesma para o PRRE são um exemplo claro do problema.

Primeiro, quero tocar no uso da palavra investimento neste contexto. Este plano está cheio de “investimentos” que não passam de gastos e compras. Os contributos incluem ciclovias, autocarros elétricos, saúde (incluindo o novo hospital), e educação. À exceção da educação, isto não são investimentos, são gastos e compras. Coisas como a saúde e ciclovias não trazem grandes benefícios económicos, e mesmo a educação é um investimento a longo prazo. A justificação para tal despesas tem motivos cívicos e sociais, não vem por motivos económicos.

Não me interpretem mal, obviamente não sou contra investimentos do estado na saúde, educação ou sustentabilidade. Pelo contrário, sou muito a favor. Mas isto são gastos que deveriam ser feitos consistentemente pelo governo. Não deveriam ser feitos com fundos europeus que se destinam a recuperar a economia dos efeitos da pandemia. Por exemplo, como é que comprar veículos elétricos ajuda o concelho a recuperar economicamente da pandemia? É uma ideia nobre de facto, mas esses veículos não vão ser produzidos em Barcelos, a não ser que haja uma fábrica clandestina da Tesla em Barcelos. Este “investimento” não vai ajudar nenhum Barcelense a recuperar dos efeitos da pandemia. E mesmo as obras publicas têm um efeito limitado porque eventualmente acabam.

O novo hospital é outro bom exemplo. O projeto anda a ser discutido desde 2008, mas foi preciso usar o PRRE para finalmente avançar. A construção do hospital é um dever base do governo, nós pagamos os nossos impostos na expectativa de, entre muitas coisas, que isso se reflita no SNS e a sua infraestrutura. Mas mais uma vez estes deveres básicos só são compridos com a caridade europeia.

Mas isto não é apenas limitado a Barcelos, acontece por todo o país. A grande maioria deste fundo, 83%, vai para o estado. E o estado, sendo demagogo como é, vai aproveitar parte deste dinheiro para fazer grandes projetos com grande valor político, mas com pouco valor económico. Até já se fala outra vez no TGV. E a outra parte vai para os serviços públicos. Assim sendo o fundo acaba por ser um suplemento ao Orçamento de Estado, o que significa que pouco sobra para o propósito original do fundo.

Mas enquanto isso os privados, tanto em Barcelos como no resto do país, ficam com os restos. Não nos esqueçamos os privados representam a grande maioria da atividade economia e dos empregos do país, por muito que o governo socialista odeie essa realidade. Mas é que nem esses restos são bons. Em Barcelos por exemplo, estes veem na forma de apoios como o Empresas 4.0, um apoio à digitalização, que não ajudam em nada uma empresa que esteja com dificuldades. Quando se fatura pouco de que interessa comprar computadores novos? Mas pelo menos podemos encontrar conforto em poder apanhar autocarros elétricos para ir á segurança social pedir subsídio de desemprego quando formos despedidos.

O Plano de Recuperação e Resiliência Económica deve ser usado para ajudar a recuperação da economia dos efeitos da pandemia, não é simplesmente dinheiro dado ao governo e câmaras para gastar como querem. Só porque um investimento parece uma boa ideia não quer dizer que é uma boa alocação destes fundos. O dinheiro tem de ser investido de maneira a recuperar a reanimar a economia, de maneira que se reflita juntos dos portugueses. É extremamente importante recuperar a economia, os próximos 10 anos estão dependentes disso. E isso não vais ser feito ao comprar autocarros elétricos. Esta alocação do fundo é completamente irresponsável e isso vai ter consequências graves. Como país temos de começar a perceber que estes fundos europeus não são complementos ao Orçamento de Estado.

Por: João Cardoso* (Membro da Iniciativa Liberal)

(* A redação do artigo de opinião é única e exclusivamente da responsabilidade do autor)

Burocrática Regina

Abril 16, 2021 em Atualidade, Concelho, Mundo, Opinião Por barcelosnahorabarcelosnahora

Nós, portugueses, sempre fomos um povo de navegadores. Descobrimos terras longínquas e desconhecidas e demos um grande contributo para o mundo global de hoje. Mas enquanto os nossos antepassados navegavam mares distantes, nós estamos condenados a navegar um mar burocrático, que cada vez mais nos afoga. O Estado e a sua burocracia são um problema, quando deveriam ser vistos como algo positivo e benéfico. É mais obstáculo para os cidadãos e as empresas, que têm de gastar dinheiro, tempo e recursos para o ultrapassar. E claro que isto afeta severamente a competitividade económica e afasta investimento estrangeiro. Interagir com o estado português é quase como se fosse mais um imposto.

O que eu acho mais engraçado é que isto é algo que as próprias instituições públicas reconhecem porque sentem a necessidade de incluir guias e manuais para nos ajudar a navegar a confusão burocrática. Neste tempo de pandemia e confinamento este problema agrava-se à medida que as empresas e os portugueses recorrem aos apoios. Por exemplo, o manual de apoio à candidatura ao Layoff Simplificado precisa de 26 páginas para explicar como se requer o apoio. E quando chegam a meio do processo e estão tão confusos que decidem que querem desistir? Simples, basta consultar o manual de 8 páginas a explicar como desistir do processo para perceber que não vão sair disto com a sanidade intacta.

Isto leva os portugueses a recorrer aos serviços de privados para resolver o problema da burocracia e poderem aceder aos apoios a que têm direito. Isto prejudica seriamente a eficácia dos mesmos. Primeiro, porque parte dos apoios recebidos são usados para pagar por estes serviços, reduzindo assim o apoio líquido. Segundo, o estado torna-se inacessível e afasta as pessoas dos apoios que precisam, principalmente aqueles com menos rendimentos e educação, que são exatamente os que mais necessitam.

Barcelos não é exceção. Alias, acredito que a Câmara de Barcelos esmera-se em burocracia e ineficiência. Processos ficam em espera durante meses, ou até mesmo anos, e durante esse tempo todo há uma falta de apoio e de transparência. Fica-se com a sensação de que a Câmara não tem um sentido de responsabilidade para com os Barcelenses, que apenas faz os seus deveres por obrigação. Obviamente que nem todos têm este problema, quem tem um amigo dentro da Câmara tem a vida mais simplificada. Depois há sempre a suspeita de que se calhar as coisas são assim de propósito, mas não ouviram isto de mim.

Isto cria problemas sérios para qualquer projeto em Barcelos, e daí o seu desenvolvimento, tanto económico como social. Afasta investimento vindo de fora do concelho, é preferível investir num concelho vizinho porque é mais fácil, mais rápido e há melhores condições do que em Barcelos; e abafa aqueles que já estão dentro do concelho, o que leva alguns a moverem-se para os concelhos vizinhos, inteira ou parcialmente. Esta derrama prejudica o emprego, os rendimentos e o desenvolvimento geral.

Mesmo quando a Câmara toma a iniciativa, faz-lho com tal peso burocrático que reduz a eficácia da mesma. Por exemplo, criaram as Bolsas de Estudo do Ensino Superior. Uma ideia nobel e com potencial. No entanto, criou-se um processo tão desnecessariamente burocrático que roça no ridículo; são precisos 15 tipos de documentos de todo o agregado familiar, mais 12 facultativos. Obviamente que isto desencoraja candidaturas. Se calhar o objetivo é esse! Demonstra que não há interesse na iniciativa em si, mas antes que o interesse está no seu valor político.

A Câmara Municipal deveria ser um companheiro para os Barcelenses que está lá para os apoiar. No mínimo que não estorve, mas idealmente deveria ser um ponto de apoio no desenvolvimento e crescimento de Barcelos. Mas na realidade, o que acontece é que a Câmara demonstra um desinteresse pelos seus deveres para com os Barcelenses e mesmo quando toma a iniciativa é apenas por interesse próprio.

Enquanto isso os Barcelenses, e os Portugueses em geral, são deixados de lado a navegar um atormentado mar de burocracias.

Por: João Cardoso* (Membro da Iniciativa Liberal)

(* A redação do artigo de opinião é única e exclusivamente da responsabilidade do autor)

Um argumento pela liberdade de escolha

Fevereiro 14, 2021 em Atualidade, Concelho, Mundo, Opinião Por barcelosnahorabarcelosnahora

Cooperar com os privados para permitir liberdade de escolha sobre os serviços públicos não deveria ser visto como vender o Estado ao privado e ao lucro. Mas sim como uma maneira de emancipar os serviços públicos. A dinamização destes através de entidades estabelecidas no mercado garantiria a qualidade e a resposta imediata, mantendo o foco naqueles que mais interessam, os utentes. 

Neste momento vivemos num país onde não temos direito de escolha sobre os serviços públicos que consideramos essenciais e para os quais contribuímos com os nossos impostos. Temos o que o estado dá, se for bom, ainda bem, se for mau, paciência. Estamos dependentes e subservientes da boa vontade e sentido de responsabilidade daqueles que nos servem. Resumindo a saúde humana a uma mera questão de sorte. Em caso de inexistência de resposta, aqueles que tem capacidade económica e financeira socorrem-se dos privados, acabando por ser a classe mais baixa da sociedade a mais afetada. Isto acontece porque a qualidade de serviços prestada pouco afeta o setor público. Quem não tem possibilidades para ir ao mercado privado não tem outra escolha. Argumentam que não pode ser de outra maneira, que é imoral ir ao mercado privado e pagar aos capitalistas que só ambicionam o lucro pelos serviços que prestam. É preferível ter serviços públicos ineficientes do que colaborar com tal gente. 

A falta de responsabilização no setor público leva a que este se preocupe mais consigo próprio do que com os que serve. Aliado aos sindicatos, o seu foco é conquistar cada vez mais direitos e regalias. O povo, que paga impostos para financiar isto tudo, fica de fora da equação. A função pública continua a reclamar por condições e direitos que o resto da população portuguesa raramente tem. Argumentam que os funcionários públicos são uma classe muito oprimida e explorada por não ter direitos que mais ninguém tem. Custa-me a perceber!

Liberdade de escolha permite-nos exigir mais. Porque quando se tem a liberdade de escolher por quem e como queremos que os nossos direitos sejam satisfeitos, tem-se poder sobre esses direitos. 

Na compra de um carro, o consumidor tem uma variedade de opções de escolha. Nessa escolha avaliam-se as prioridades de cada um, tal como preço, espaço, qualidade, estilo, etc. Isto coloca pressão nos produtores de carros para que o seu produto satisfaça os clientes da melhor maneira possível, porque se o cliente não estiver satisfeito para próxima vai a outro. O cliente tem escolha, e essa escolha dá-lhe poder. 

Este conceito é a base da democracia, temos o direito de escolher quem nos representa. Escolhemos quem achamos que melhor representa os nossos interesses, e por isso temos neste momento dez partidos na assembleia da república a competir pela nossa aprovação na expectativa de serem eleitos outra vez. Esforçam-se para nos agradar porque estão dependentes disso para continuarem a fazer o que fazem. Foi por isso que lutamos no 25 de Abril, para dar poder ao povo sobre quem nos governa. 

Porque é que podemos ter poder sobre o que consumimos ou quem nos representa, mas não podemos ter esse poder sobre os nossos direitos básicos de educação e saúde? Porque aparentemente corremos o risco de algum capitalista ter lucro por prestar um serviço de qualidade. Mas esquecem-se que é por causa desse mesmo lucro que o capitalista se interessa sobre a nossa satisfação, e é essa falta de motivação que torna o público ineficiente. 

E assim acabamos nós, neste canto à beira mar, com tanto medo de ser explorados pelos capitalistas que acabamos todos oprimidos por um serviço público que só se interessa por si. Mas da próxima vez que tiverem na fila de espera do hospital ou que os vossos filhos não tirem proveito da escola, podem sempre encontrar conforto no fato que nenhum capitalista está a lucrar com isso.

Por: João Cardoso* (Membro da Iniciativa Liberal)

(* A redação do artigo de opinião é única e exclusivamente da responsabilidade do autor)

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