Ser mãe, uma missão para a vida, que começa no momento exato da notícia da gravidez

O conceito de maternidade surge muitas vezes confundido com o de gravidez. No entanto, os dois conceitos referem-se a realidades distintas. A maternidade vai para além da gravidez, fazendo desta transição um dos acontecimentos de vida mais marcantes em termos de desenvolvimento e que se estende ao longo da vida da mulher.
A maternidade é vista como sendo o processo de adaptação constante entre expectativas e realidades, uma vez que a mulher não carrega o bebé somente no seu ventre, mas também o carrega mentalmente.
Neste sentido, a maternidade é considerada um período de especial vulnerabilidade psicológica, uma vez que todas as mudanças envolventes conduzem frequentemente ao aparecimento de “novas” patologias psíquicas, ou então, agravamento de perturbações previamente existentes que, caso não sejam intervencionadas corretamente, tornam-se um obstáculo no processo de vinculação entre a mãe e o bebé, com repercussões no desenvolvimento da criança bem como na saúde mental materna.
Esta transição de mulher para mulher-mãe exige grandes mudanças e adaptações ao nível biológico, psicológico, social e relacional, principalmente quando se trata do primeiro filho. É impactante quer na vida pessoal como familiar, modificando irreversivelmente a identidade, os papéis e as funções da mãe, bem como do pai e de toda a família. Todas estas mudanças provocam stress no seio familiar, dado que estas envolvem ganhos e perdas (associados às representações de gravidez e maternidade que cada mulher possui) e por requererem respostas cognitivas, emocionais e comportamentais que normalmente não integram o repertório comportamental da mulher, exigindo uma adaptação peculiar. Torna-se, assim, fundamental assegurar o bem-estar psicológico da mulher.
A promoção da saúde mental nestas fases é imprescindível, no sentido de determinar o melhor ajustamento ao período que a mulher atravessa, bem como auxiliar no desenvolvimento de recursos e competências que possam facilitar o estabelecimento de uma relação individual e familiar saudável.
Neste turbilhão de emoções é muito frequente ouvirmos as mulheres dizerem que “é fácil esquecermo-nos de nós”, “é muito fácil esquecermo-nos que a vida não se resume a ser mãe”, pelo que voltar a ser Mulher depois de ser Mãe nem sempre é um processo simples de alcançar, principalmente quando não existe o devido apoio especializado.
A mulher encontra-se de tal forma envolvida e dependente do novo ser, que por vezes os papéis encontram-se invertidos; as mães ficam mais dependentes dos filhos do que os filhos das mães, tornando-se quase impossível que a “Mulher” se enquadre na sua nova rotina de vida. E consequentemente esta situação torna-se nefasta para o processo de vinculação mãe-bebé, influenciando o desenvolvimento intelectual, emocional e social.

Muitas vezes, com a maternidade, as mulheres vivem apenas o papel de mãe, esquecendo-se que também são seres individuais e que precisam do seu tempo para se cuidarem e nutrir, de forma a evitar que cheguem à exaustão. A mulher sente que deixa de ter tempo para si, enquanto empreendedora, enquanto mulher independente, enquanto amante, e deixa de viver um relacionamento harmonioso e prazeroso.
A Mulher colocando-se em segundo plano levará consigo também a relação com o marido/companheiro, uma vez que se não tem tempo para cuidar de si, muito menos terá para cuidar e mimar o marido/companheiro e consequentemente, a relação ressente-se.

No meio desta nova dinâmica familiar, é difícil a mulher sentir-se bem consigo própria, sente que está sempre a falhar em alguma esfera e que não consegue atender a todas as necessidades.
O mito de que “é possível ser-se a mãe, esposa, familiar e amiga perfeita”, não passa de uma utopia perpetuada por mulheres frustradas que levam a que outras mulheres se sintam ainda mais frustradas por acreditarem neste mito. Porém é muito fácil deixar-nos tomar pela culpa e pela angústia, e é nesta fase crítica que o mau-estar leva a que os problemas psicológicos se revelem com mais frequência, sendo ainda mais provável quando a mulher tem problemas já desde a gravidez e pós-parto (ex: Depressão pós-parto).
Caso se encontrem nesta situação é urgente que procurem ajuda; a maternidade tem muito de belo, mas é uma transição para um mundo novo, muito atribulado, povoado de incertezas e inseguranças.
(* A redação do artigo de opinião é única e exclusivamente da responsabilidade da autora)