Tag archive

Psicologia

Saúde mental na 1º infância

Julho 31, 2022 em Atualidade, Concelho, Saúde Por barcelosnahorabarcelosnahora

O período entre o nascimento e a entrada na escola primária é, habitualmente, considerado feliz e sem preocupações, pelo que para a maioria das pessoas é surpreendente saber que um número significativo de bebés e crianças sofrem de uma perturbação mental relevante.

Dada a importância da deteção e intervenção precoce nestas crianças, tem havido nas últimas décadas uma crescente preocupação com a saúde mental nesta faixa etária. São reportadas na literatura como sendo frequentes as perturbações do sono, alimentação, regulação emocional, processamento sensorial e de comportamento, com taxas de prevalência que atingem 10 a 20% das crianças tenham um ou mais problemas de saúde mental, sendo destes 25% nos problemas alimentares e 23% nos problemas de sono moderados. A maioria destes problemas têm impacto no desenvolvimento da criança, tornando-as também mais vulneráveis a vir a sofrer de doenças mentais na adolescência ou vida adulta.

Nesta faixa etária, as crianças não possuem as mesmas competências cognitivas, emocionais, e verbais que as crianças mais crescidas ou os adolescentes, pelo que a família é um alicerce fundamental para o diagnóstico e posterior tratamento. Também as abordagens são diferentes das utilizadas em crianças mais velhas, sendo frequentemente necessário a observação da interação cuidador-bebé, a sua separação e a posterior reunião ou mesmo a observação direta na creche ou em momentos chave do problema, como por exemplo, uma refeição.

Nos dias de hoje, os pais passam os dias a correr, têm cada vez dias mais longos de trabalho e menos tempo para a família. Chegar cansado, sem ter uma noite seguida de sono há meses, e cuidar de um bebé/criança com algum problema, inevitavelmente aumenta os níveis de ansiedade dos adultos que moram em casa, o que se transmite, involuntariamente, para os mais pequenos, aumentando por sua vez os problemas iniciais das crianças, criando um ciclo fechado, que precisa de ser interrompido.

As perturbações de saúde mental da primeira infância são mais comuns do que se imagina, sendo por isso frequente a desvalorização dos problemas e atraso na procura de ajuda. Embora algumas das perturbações (como PHDA, Autismo, entre outras) não apresentem tratamento curativo, é sempre possível melhorar a qualidade de vida dos mesmos e da família com uma intervenção adequada, o mais precocemente possível. Segundo a Associação Americana de Psiquiatria da Infância e da Adolescência (AACAP) uma em cada cinco crianças apresenta evidência de problemas mentais e esta proporção tende a aumentar. De entre as crianças que apresentam perturbações psiquiátricas apenas 1/5 recebe tratamento apropriado. Ddo que a doença mental não tratada na infância tem sérias consequências na vida enquanto adolescente e mais tarde enquanto adulto, condicionando a saúde física e mental e limitando oportunidades de vida.

DIA MUNDIAL DA CRIANÇA : A importância das perturbações de humor

Junho 1, 2022 em Atualidade, Concelho, Saúde Por barcelosnahorabarcelosnahora

Cada vez mais se reconhecem a importância das Emoções e dos estados de humor no decorrer do desenvolvimento e no crescimento harmonioso das crianças. Sabendo que as perturbações de humor associadas a emoções negativas são altamente prejudiciais para o crescimento e desenvolvimento da criança.

As Perturbações de humor, mais conhecidas por depressões, são geralmente associadas a indivíduos adolescentes ou adultos. E será que as crianças podem sofrer de depressão? Será que os sintomas são os mesmos que se manifestam nos adultos? Como detetar a perturbação e qual o tratamento a seguir? Neste artigo vamos responder a estas e outras perguntas.

Depressão Infantil

O “mal do século XXI”, nas palavras da Organização Mundial de Saúde, afeta também os mais novos. A depressão infantil é uma realidade e sintomas como a apatia, isolamento, tristeza, alterações do sono e do apetite, diminuição do rendimento escolar, entre outros, não devem ser descurados — mesmo na fase pré-escolar, aos três ou quatro anos. Não há uma idade mínima para chegar ao diagnóstico.

Estudos recentes apontam para que a depressão infantil seja mais frequente do que inicialmente se pensava: cerca de5% das crianças e adolescentes possuem um grau significativo de depressão. De acordo com a última versão do Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais (DSM-5), da Associação Americana de Psiquiatria, a depressão tem uma prevalência de 2 a 5% entre crianças e adolescentes.

A depressão infantil é uma perturbação psicológica associada a algum aspeto de comprometimento da personalidade da criança, tal como baixa autoestima e autoconfiança. Os principais comportamentos da criança com depressão infantil são:

  • autodepreciação, tristeza, frustração, medos;
  • perda da energia habitual, diminuição do apetite e redução de peso;
  • hiperatividade, agressividade e irritabilidade;
  • alterações do sono;
  • Alterações do apetite, seja diminuição ou aumento marcados;
  • diminuição da socialização;
  • atitude negativa em relação à escola e baixo rendimento escolar.
  • Baixa autoestima e constantes sentimentos de culpa;
  • Extrema sensibilidade à rejeição e ao fracasso;
  • Fadiga, falta de energia;
  • Apatia, perda de interesse nas brincadeiras ou atividades que anteriormente a entusiasmavam;
  • Queixas somáticas;
  • Agitação psicomotora;
  • Entre outras.

Estão também associados sintomas somáticos como enurese/encoprese, dores de barriga e diarreia, dores de cabeça, vómitos, além de condutas socialmente menos adequadas. No entanto, há que referir que os sintomas da depressão na infância variam de acordo com a idade.

Até os 7 anos, as crianças, não apresentam competências verbais para expressar os seus sentimentos, desta forma, o diagnóstico de sintomas depressivos torna-se mais difícil nesta faixa etária. Assim, é necessário ter em especial atenção a comunicação não-verbal, a expressão facial, os desenhos e a postura corporal da criança. Deste modo, pais, educadores e professores devem estar atentos aos comportamentos da criança, sendo o baixo rendimento escolar um dos primeiros sinais do surgimento de um possível quadro depressivo. Os pais poderão identificar problemas no repertório comportamental da criança, variando desde extrema irritabilidade à obediência excessiva, ocorrendo ainda uma instabilidade significativa em relação a esses comportamentos.

Quanto mais problemas de comportamento a criança apresentar, maior será a probabilidade de um desenvolvimento atípico, visto que a depressão interfere nas atividades associadas à cognição e à emoção. A deteção precoce de sintomas depressivos em crianças evita que venham a desenvolver quadros graves, com prejuízos no convívio social e no ambiente escolar e familiar.

“mas ela ainda é tão pequenina ainda não sabe o que é vida e já tem depressão?”

A depressão infantil pode surgir na sequência de uma situação traumática ou um acontecimento sentido pela criança como traumático, como por exemplo uma separação, abandono, doença ou morte de alguém próximo, uma mudança de escola, são apenas alguns exemplos. No entanto por norma há uma situação, ou várias, que se relacionam.

Nem sempre existe um acontecimento único identificável, a causa da depressão infantil pode ser multifatorial. Alguns estudos sugerem que a genética possa ter alguma influência na propensão para o seu desenvolvimento. As crianças nascem com um património genético, mas depois estabelecem relações numa família, na escola e pode ou não experienciar acontecimentos de vida traumáticos. Para o desenvolvimento de um quadro depressivo, o meio ambiente é, por esse motivo, determinante. Um historial familiar depressivo pode, ser um sinal de alarme, pela importância dos aspetos relacionais e por poder significar uma situação vivida como negativa pela criança.

Como ajudar estas crianças?

As crianças têm maior dificuldade em exprimir verbalmente o que sentem e não existem sintomas exclusivos da depressão infantil, pelo que muitas vezes, não é fácil chegar ao diagnóstico. Pelo que no início, ocorre muitas vezes a incompreensão do que se está a passar com a criança, por parte dos pais e dos professores, não têm a clara perceção do problema, daí a extrema importância da procura de ajuda profissional.

Além da observação e avaliação dos sintomas verificados, atendendo à sua duração, frequência e intensidade, é importante ouvir os pais e outros cuidadores, perceber se a criança teve alguma experiência vivida como traumática e se em causa estão problemas relacionais, entre outros.

Na maioria dos casos é necessário pedir exames complementares de diagnóstico, nomeadamente os testes psicológicos para despiste de outras patologias, como por exemplo problemas de desenvolvimento, perturbações de comportamento, entre muitas outras.

De uma forma geral, os pais, familiares e professores devem estar atentos aos sintomas mencionados, uma vez que, as consequências da depressão infantil são principalmente ao nível do desenvolvimento cognitivo e emocional, iniciar devendo iniciar-se um tratamento precoce, evitando, dessa forma, maiores prejuízos.

Tratamento da depressão infantil

O recurso a antidepressivos, estabilizadores de humor ou outros psicofármacos no tratamento da depressão infantil continua a ser alvo de muita discussão e é uma questão controversa. Na minha opinião, a psicoterapia individual deve ser o tratamento de eleição, não excluindo também a intervenção com a família e, se necessário, com a escola ou outras pessoas e/ou entidades que rodeiam a criança.

O que não quer dizer que, em situações mais graves, não se recorra a medicação para alívio dos sintomas. A abordagem psicoterapêutica individual tem uma duração variável, consoante a severidade da situação, mas implica um acompanhamento regular que pode variar entre meses a anos.

Dai ser importante a ajuda profissional de um psicólogo, que poderá ajudar a criança a superar as suas dificuldades psicológicas, emocionais e sociais.

Ansiedade, as crianças e a escola …

Maio 4, 2022 em Atualidade, Concelho, Opinião Por barcelosnahorabarcelosnahora

Ansiedade, as crianças e a escola …

Alguma ansiedade é normal, mas esta não perturba o funcionamento das crianças. Saiba ajudar e também quando deve procurar ajuda.

A ansiedade é uma emoção e um mecanismo de defesa que acontece por antecipação de estímulos ou situações desagradáveis ou de perigo. Quando a ansiedade é dirigida a um estímulo específico é referida como receio ou medo. A emoção protege-nos e é normal, quando está enquadrada no contexto correto. Por exemplo, olhamos para os lados antes de atravessar numa passadeira, por receio de sermos atropelados.

A ansiedade passa a ser um problema e, portanto, uma perturbação de ansiedade, quando um estímulo neutro ou inofensivo é entendido como potencialmente perigoso e as reações que provoca interferem com o dia-a-dia. A ansiedade normativa, ou seja, aquela que não afeta o funcionamento e é de curta duração, pode ocorrer em contexto de avaliações ou mudanças na nossa vida.

Embora uma maior ansiedade seja normal em momentos de avaliação, mudança de escola ou de turma, entre outras situações relacionadas com o contexto escolar, cerca de 5% das crianças têm perturbações de ansiedade que devem ser avaliadas e acompanhadas.

A perturbação de ansiedade social é um dos subtipos das perturbações da ansiedade. Caracteriza-se por uma ansiedade ou receio marcados em situações em que alguém é exposto ao possível escrutínio por parte de terceiros. É esta a perturbação de ansiedade que muitas vezes está subjacente ao stress no momento das avaliações escolares.

Neste caso, as crianças têm medo e evitam interações que avaliem o seu desempenho, porque acreditam que os outros as vão avaliar negativamente. As mudanças de escola ou de turma também podem provocar sintomatologia ansiosa.

Neste caso são sobretudo quadros de ansiedade generalizada, que se manifestam em crianças que têm tendência para preocupação, com uma ampla variedade de possibilidades negativas, de que algo de mau vai acontecer.

Além de evitarem os testes ou até de se recusarem em frequentar a escola, as crianças com perturbações da ansiedade manifestam muitas vezes sinais físicos, por exemplo:

  • Dor de cabeça;
  • Dor de barriga;
  • Perda de apetite;
  • Dificuldade em engolir;
  • Dificuldade em respirar;
  • Insónia.

Como devem os pais ajudar?

As perturbações de ansiedade podem ser hereditárias. Costuma até dizer-se que, quer através dos genes quer do comportamento, a ansiedade circula nas famílias.

A atitude dos pais e o que transmitem às crianças é muito importante:

  • Salientem que o seu amor por elas não depende dos seus resultados escolares;
  • Evitem comparar resultados escolares com o de irmãos/colegas;
  • Salientem que valor das crianças como pessoas não depende dos seus resultados escolares;
  • Evitem expressões como “assim nunca vais chegar a lado nenhum”;
  • Refiram que os testes e outras avaliações são a forma de se perceber se estão a reter a informação transmitida na escola, que é importante para crescerem saudáveis e equilibrados;
  • Salientem que o erro permite a evolução, referindo, por exemplo “hoje correu mal, não faz mal… faz parte do processo, aprendemos e amanhã correrá melhor”;
  • Elogiem o processo, e não apenas o resultado final;
  • Ensinem que a mudança faz parte da vida (as estações do ano mudam, os dias da semana mudam, o dia e a noite, o ser humano evolui desde bebé até velho), as mudanças são naturais e acarretam aspetos positivos e negativos aos quais todos temos de nos adaptar;
  • Salientem que a mudança pode trazer novas pessoas, novos contextos, novas possibilidades de crescimento.
  • Refiram que não temos de gostar de toda a gente, nem toda a gente tem de gostar de nós.

Quando é necessário procurar ajuda profissional?

Contudo por vezes a ajuda dos pais não é o suficiente, sendo necessário ajuda diferenciada.

Quando os sintomas de ansiedade alteram o funcionamento da criança, por exemplo com recusa em ir à escola, sintomas exagerados para a situação, sofrimento emocional e/ou físico, deve ser procurada ajuda profissional.

A psicoterapia constitui o tratamento de primeira linha nestas situações, podendo ser necessária a associação com psicofarmacologia.

É preciso romper o silêncio: suicídio na infância e na adolescência!

Fevereiro 5, 2022 em Atualidade, Concelho, Opinião, Saúde Por barcelosnahorabarcelosnahora

Comportamento suicida é uma ação autolesiva, inclui gestos suicidas, tentativas de suicídio e o suicídio consumado. É importante realçar que a ideação suicida compreende pensamentos e planos de ação sobre suicídio e a tentativa de suicídio são atos de automutilação que podem resultar na própria morte. Sendo o suicídio “um ato de violência autoinfligido”

No entanto é importante salientar que o suicídio não deve ser avaliado como sendo o desejo de morrer, ma sim de acabar com tudo aquilo que está a provocar um sofrimento intenso que parece não ter solução.
Atualmente, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é um problema de saúde pública a nível mundial, sendo responsável por 1 morte a cada 40 segundos no mundo, dado que se trata de um fenómeno complexo e multifacetado que resulta da interação de fatores de natureza filosófica, antropológica, psicológica, biológica e social.

Segundo a Direção Geral de Saúde na nossa população a maior prevalência do comportamento suicida encontra-se entre a idade adulta e a adolescência. Contudo nos últimos anos tem sido visível um aumento significativo deste comportamento em faixas etárias mais baixas, inclusive, com suicídios a partir dos 5 anos de idade.
Entre 2002 a 2012 houve um aumento de 40% na taxa de suicídio entre crianças e adolescentes (10 e 14 anos) e de 33,5% na faixa etária de 15 a 19 anos, no entanto com a situação pandémica foi visível novamente um aumento substancial nestes valores. Estes dados são a nossa maior preocupação enquanto profissionais de saúde mental e nos levam a questionar o que faz uma criança ou adolescente pensar ou acabar com a própria vida?

O suicídio é a segunda causa de morte entre as crianças e os adolescentes, como resultado da presença de perturbação mental, muitas vezes desconhecidas e/ou desvalorizadas. Por norma as crianças com risco de suicídio poderão apresentar-se: deprimidas ou ansiosas, apáticas e sem energia para atividades que anteriormente seriam prazerosas, alteração súbita de comportamentos, conversas sobre assuntos relacionados com a morte. Pelo que é extremamente importante começar-se a estar alerta e dar a devida atenção e acompanhamento à saúde mental desde os primeiros anos de vida.

Fatores de risco

A ideação suicida nem sempre termina em suicídio consumado, mas é um fator de risco para o mesmo e são diversos os fatores que normalmente interagem antes de a ideação se tornar comportamento suicida. Tais como:


• Morte de um ente querido


• Suicídio na escola ou entre pares


• Perda de um(a) namorado(a)


• Mudança de um ambiente familiar (como da escola ou da vizinhança) ou de amigos


• Humilhação por familiares ou amigos


• Situações de bullying


• Insucesso na escola

Tais acontecimentos stressantes por si só não levam a que as crianças e adolescentes tenham este tipo de comportamentos, contudo quando existem problemas subjacentes, mesmo não sendo justificativo é mais provável que aconteça, como perturbação de humor ou ansiedade, perturbação de controlo ou comportamento, abuso de substâncias, esquizofrenia, traumatismo craniano, PSPT, entre outros.

Um outro lado preocupante para os Psicólogos é que o comportamento suicida nas crianças acontece muitas vezes como sendo imitação de outros, como no caso de celebridades e as informações expostas pelos midia e redes sociais. Da mesma forma acontece quando episódios idênticos acontecem nas escolas e/ou com os seus pares.
Bem como a sua componente hereditária, em que o suicídio é mais provável em famílias com predisposição para as perturbações de humor, especialmente caso haja um histórico familiar de suicídio ou outros comportamentos violentos.

Diagnóstico

Pais, médicos, professores e amigos podem estar numa posição que lhes permita identificar as crianças que podem tentar o suicídio, em particular aquelas que tiveram uma recente mudança de comportamento. As crianças e adolescentes que exprimem abertamente pensamentos de suicídio (como “quem me dera nunca ter nascido” ou “gostaria de dormir e nunca mais acordar”) estão sob risco, tal como as crianças com sinais mais sutis, como retraimento social, retrocesso escolar, perda de prazer em atividades do dia-a-dia anteriormente prazerosas.

Nestes casos os profissionais de saúde têm duas funções principais:


• Avaliar a segurança e a necessidade de hospitalização da criança suicida


• Intervir nas perturbações subjacentes, como a depressão, ansiedades, problemas familiares, abuso de substâncias, entre outros.

Apoio médico é essencial. O encaminhamento da criança ou adolescente com tendências suicidas a profissionais qualificados como pediatras, psicólogos e psiquiatras pode salvar uma vida!

Tratamento

Qualquer tipo de tentativa de suicídio deve valorizada e mobilizando todos os recursos para a situação, porque um terço das crianças com comportamentos suicidas acabam por consumar o ato. Por norma começa por alguns pequenos ferimentos, como alguns arranhões superficiais no pulso, mas com o passar do tempo estes atos tornam-se cada vez mais intensos e autolesivos.

O tratamento pode envolver hospitalização caso o risco seja elevado, farmacoterapia e terapia individual e familiar.
A decisão de hospitalização depende do grau de risco, dado que é o modo mais garantido de proteger a criança e é geralmente indicada quando existe algum diagnóstico de perturbação mais severa, como a depressão. Em casos de a hospitalização não ser necessária, as famílias das crianças deverão ser apoiadas de forma a eliminarem todos os fatores de risco que a criança e adolescente possam ter para manterem os comportamentos suicidas. No caso da criança e/ou adolescente deverá ser encaminhado para psiquiatria e psicologia para devido tratamento, farmacológico e psicoterapêutico.
O tratamento é mais eficaz e eficiente quando existe a envolvência de toda a equipa médica (médico de família/ pediatra, psiquiatra e psicólogo).

Dicas para familiares

Sinais possíveis de ideação suicida em crianças e adolescentes:


• Humor deprimido


• Diminuição do rendimento escolar


• Aumento do isolamento social


• Perda de interesse em atividades anteriormente prazerosas


• Mudança na aparência (negligência ou desleixo nos cuidados pessoais)


• Aumento do interesse em temas relacionados à morte


• Aumento da irritabilidade, crises impulsividade e agressividade


• Alterações no comportamento


• Uso de álcool ou drogas


• Mudança no padrão do sono e/ou apetite


• Uso de expressões verbais “auto-destrutivas” – “Queria morrer”

Por: Drª Marisa Marques

A família e o desenvolvimento Psicológico

Dezembro 18, 2021 em Atualidade, Concelho, Mundo, Saúde Por barcelosnahorabarcelosnahora

Não obstante à emergência de saúde pública sentida, e todos os riscos inerentes ao COVID-19, é importante relembrar que, por norma, é na quadra Natalícia que existe em família uma maior intimidade, interação, partilha de experiências e emoções.  Sendo de salientar que é importante frisar que estar em família é englobar todos os momentos do ano, apesar de o impacto nefasto que o COVID-19 tem exercido no seio familiar pode ser o “comprimido” acarretou bastantes problemas na saúde mental na família, bem como diversos desequilíbrios.

Atualmente é complexo atribuir uma definição de família. Mas independentemente da composição, sabe-se que a família é um lugar exclusivo, que representa a intimidade, um lugar repleto de felicidade e amor. A família é mesmo isso: é a nossa fonte de abrigo, é saber que está sempre alguém à nossa espera em casa, com quem se possa partilhar as experiências e vivências do dia-a-dia. Pesa embora, que por vezes estas relações sofrem alguma agitação e confusão. Pelo que nem sempre é possível encontrar esse lugar seguro quando se fala de famílias pautadas pelo desequilíbrio e tensão

Toda relação humana é complexa. Mas mesmo sendo complexa a interação familiar, é de salientar que a importância da família na sociedade é expressiva, principalmente na infância, onde a família é a base de tudo. Boas experiências afetivas na infância têm influência positiva no desenvolvimento que se reflete na fase adulta.

Os primeiros anos de vida são importantes porque o que ocorre na primeira infância faz diferença por toda a vida.

A família é vista como o primeiro espaço psicossocial, modelo das relações a serem estabelecidas com o mundo que permite o desenvolvimento da personalidade de cada ser humano. É através das primeiras experiências sociais e de construção de vínculos que a criança desenvolve os seus valores e personalidade, além de serem a base do seu desenvolvimento psicológico e emocional.

São inúmeros os estudos que têm mostrado que investimentos na primeira infância têm retorno bastante positivo para as crianças e para a sociedade como um todo (Jack P. Shonkoff e Julius B. Richmond, 2009; Britto, Yoshikawa and Boller 2011; Center on the Developing Child, Harvard University 2013; OMS e UNICEF, 2018). Em que crianças que não experienciaram exemplos positivos e valores, como por exemplo suporte, carinho, dedicação, esforço e disciplina, podem desenvolver traumas que, se não tratados, têm grandes probabilidades de evoluírem para perturbações psicológicas mais preocupantes, como depressão, ansiedade, ataques de pânico ou outros perturbações graves

Desde a gravidez e ao longo da primeira infância, todos os ambientes em que a criança vive e se desenvolve, assim como a qualidade dos seus relacionamentos com adultos e cuidadores, têm impacto significativo no seu desenvolvimento físico e cognitivo.

Neste sentido, a família, se for “saudável”, constitui numa fonte de ajuda ativa. Um grupo familiar bem organizado e estável, em que se verifique um sistema de autoridade claro e aceitável, uma comunicação aberta baseada em controlo e apoio, torna-se fundamental no bom desenvolvimento de crianças mentalmente saudáveis, assertivas, autónomas e seguras de si.

Quando a família não é “saudável”, os padrões de autoridade modificam-se, sendo a comunicação e a distribuição de papéis funcionais deteriorados, o que dificulta o controlo dos sentimentos negativos, levando ao aumento da angústia, hostilidade e violência. Por vezes, a falta de respeito dos diversos elementos da família, como a intolerância, a agressividade, o desinteresse ou a superproteção, marcam a personalidade do indivíduo.

Porém, além da angústia provocada pela doença misteriosa e devastadora – Covid-19, as medidas de distanciamento social adotadas para diminuir o número de mortes, trouxeram uma série de desafios para as famílias e primeira infância: criação de laços familiares tóxicos, dependência e proteção excessiva, tornando os ambientes familiares pautados pela ansiedade e instabilidade.  Pelo que, nos dias de hoje, mais que nunca, torna-se imprescindível ter em atenção que as famílias e as crianças submetidas a fatores de stress tóxico ou relações familiares tóxicas, necessitam de intervenções especializadas, o mais cedo possível, para romper com a causa do stress e protegê-las das consequências.

O valor de uma família saudável é imensurável, pois é a base para que o indivíduo construa a sua inteligência emocional, valores, atitudes e bons exemplos.

Se a sua família, as suas crianças e/ou você sentem-se afetados pelo impacto do covid, se sentem que a sua família está instável e/ou desajustada, procure ajuda. A Psicologia trabalha a família focando-se nas emoções, pensamentos e comportamentos do contexto familiar. Assim a Terapia Familiar é importante em casos de conflitos, traumas ou mesmo a necessidade e interesse de se aproximar, reaproximar e conviver bem com os membros desse grupo social.    

Foto: pexels

Ansiedade ou depressão: como reconhecer cada uma

Novembro 16, 2021 em Atualidade, Concelho, Saúde Por barcelosnahorabarcelosnahora

Têm alguns aspetos em comum e podem até ocorrer em simultâneo. Mas, para tratá-las da melhor forma, é importante aprender a distinguir: ansiedade ou depressão.

É fácil confundir ansiedade com depressão. Existem situações, no âmbito das perturbações mentais, em que ambas se parecem sobrepor ou até mesmo coexistir. Noutros casos, uma pode ser produto de outra – muitas vezes a depressão surge de casos graves de ansiedade crónica. Ainda assim, são problemas de saúde mental diferentes. O diagnóstico correto é essencial de forma a poder proceder-se ao tratamento e à recuperação adequada.

Pixabay

O que é a ansiedade?

A ansiedade pode manifestar-se através de sintomas físicos e psicológicos. É normalmente caracterizada por uma preocupação excessiva face a uma situação futura. Não se vive bem o presente, sempre com inquietação pelo futuro. Quando controlada, é uma reação natural do organismo a possíveis ameaças, que permite que nos mantenhamos alerta para qualquer perigo que possa surgir.

No entanto, por vezes a ansiedade apresenta-se de forma intensa, prolongada e sem causa aparente. Nestes casos, as pessoas tendem a isolar-se e a evitar quaisquer situações que considerem perigosas, mesmo quando não o são.

A ansiedade pode ser generalizada ou manifestar-se em situações específicas, como:

  • Ataques de pânico
  • Perturbações obsessivo-compulsivas
  • Agorafobia
  • Ansiedade social
  • Stress pós-traumático

E o que é a depressão?

A tristeza, tal como a ansiedade, é uma reação natural a certas experiências, tendendo a ser ultrapassada após um determinado período de tempo. O sentimento de tristeza pode, contudo, prolongar-se mais tempo do que o habitual, tornando-se um problema crónico e incapacitante que afeta as várias esferas da vida da pessoa que dela sofre.

Pixabay

Diferente de preocupação ou receio de situações futuras, a depressão é caracterizada por este sentimento de tristeza crónica. Existem vários fatores que podem contribuir para o seu desenvolvimento:

  • Predisposição familiar
  • Acontecimentos desagradáveis ou traumáticos (situações de perda, separação, luto ou tragédia)
  • Personalidades mais introvertidas

As mulheres, assim como os indivíduos com excesso de peso, baixa autoestima, vítimas de violência ou de outros acontecimentos perturbadores, têm também uma maior predisposição para desenvolver depressão. No entanto, esta também pode surgir sem motivo aparente ou no decorrer de um problema prévio de ansiedade.

Sinais de alarme

Tanto a ansiedade como a depressão apresentam vários sintomas a nível físico e psicológico. No entanto, por serem doenças do foro psiquiátrico e se desenvolverem de uma forma gradual, podem ser de difícil diagnóstico.

Algumas manifestações possíveis de ansiedade:

  • Sensação injustificada de medo ou pânico
  • Problemas de concentração
  • Irritabilidade
  • Insónias
  • Dificuldade em respirar
  • Palpitações
  • Boca seca
  • Náuseas
  • Tensão muscular
  • Tonturas

 A depressão, por sua vez, tende a provocar menos sintomas físicos. Eis alguns dos clássicos sinais de depressão:

  • Sensação persistente de tristeza
  • Menor interesse por atividades do quotidiano, mesmo que antes fossem prazerosas
  • Sensação de culpa ou falta de esperança para o futuro
  • Fadiga crónica
  • Insónias ou hipersónia (dormir em demasia)
  • Variações abruptas de peso
  • Alterações ao nível da cognição (memória, concentração e raciocínio)
  • Diminuição da autoestima e da autoconfiança

Pixabay

Atenção! Tanto a ansiedade como a depressão podem fragilizar e afetar severamente a qualidade de vida. Caso reconheça em si ou em alguém que lhe seja próximo alguns dos sintomas mencionados, procure ajuda.

Por: Drª Marisa Marques

Quando devo levar o meu filho ao psicólogo

Julho 21, 2021 em Atualidade, Concelho, Opinião, Saúde Por barcelosnahorabarcelosnahora

São muitos os mitos existentes acerca do acompanhamento psicológico com crianças e adolescentes, especialmente nas faixas etárias mais tenras. Os pais, preocupados com o bem-estar e ajustamento psicológico dos seus filhos, temem frequentemente solicitar o apoio psicológico.

Quando nossos filhos tem febre, dor ou algum outro sintoma físico, imediatamente agendamos uma consulta com o pediatra. Mas, quando eles estão com algum problema que afeta a saúde mental e bem-estar psicológico, nem sempre conseguimos identificar os sinais assim, de primeira. Em outras situações existe o receio de reconhecer que se precisa de ajuda com o medo de os pais serem classificados como não sendo competentes ou sendo os culpados pela condição atual da criança.

Reconhecer a difícil missão de ser pai e enfrentar este desafio recorrendo ao apoio psicológico é um ato que manifesta um profundo sentido de responsabilidade e respeito. Tal decisão não revela incapacidade ou fraqueza dos pais, mas antes um forte sentido de pertença e entrega pelos seus filhos, devendo por isso ser aplaudida.

Há inúmeros motivos que podem levar pais e responsáveis a procurar um psicólogo.

Quando devo recorrer ao Psicólogo Infantil?

O psicólogo infantil é um profissional especializado que pode ser um forte aliado na promoção do desenvolvimento harmonioso das crianças.

A criança evidencia algum comportamento prejudicial à sua qualidade de vida como por exemplo

• Dificuldades:

Comportamentais: agressividade;
Emocionais tais como ansiedade, fobia, isolamento social e depressão;
Relacionais com pais, professores, colegas ou outros;
Atenção e concentração;
Aprendizagem
Autismo
Sono.

• Perturbações:

De eliminação: enurese (dificuldade de controlo da urina, sobretudo durante o sono) e ecoprese (dificuldades de controlo das fezes);
Sono.

• Situações familiares impactantes como adoção, divórcio, maus-tratos.
• Processo de luto.
• Alterações ou distúrbios alimentares tais como recusa alimentar, anorexia e bulimia

A partir de que idade as crianças podem passar no psicólogo?

O psicólogo infantil começa atender crianças por volta de 1 ano e meio de idade.

Em que consiste o acompanhamento de Psicologia Infantil?

O apoio psicológico é feito numa perspectiva de intervenção breve e com fases distintas.

O psicólogo infantil tem uma formação que lhe permite estabelecer com a criança uma relação que lhe forneça segurança para encarar o espaço proporcionado enquanto momento de partilha e validação emocional. A forma de falar, o tom, a postura que usa criam um ambiente de acolhimento e confiança.

Antes do início da psicoterapia, o psicólogo realiza entrevistas iniciais com os pais para reunir informações sobre a história da criança e da família. Só após esse contacto inicial, é que o psicólogo tem condições para avaliar a condição psicológica e, posteriormente, o número de sessões que necessitará, assim como a periodicidade das mesmas.

Habitualmente as sessões têm um carácter semanal numa fase inicial, passando depois para quinzenais até a fase do follow up (por ex: monitorização de 3 em 3 meses ou 6 em 6 meses que pode ser realizada presencialmente ou pelo telefone). A duração média das sessões é de 30-40 minutos.

Como é realizado o acompanhamento de Psicologia Infantil?

Durante a psicoterapia, o psicólogo utiliza essencialmente recursos lúdicos para compreender os sentimentos, pensamentos e angústias das crianças através das brincadeiras. É de salientar que cada criança, cada faixa etária exigi recursos específicos para a sessão fluir.

Por sentir-se aceite e compreendida no contexto que lhe é proporcionado, a par das estratégias utilizadas por estes profissionais, verificam-se melhorias significativas no comportamento das crianças em casa e na escola.

A saúde mental e psicológica das crianças e adolescentes jamais deverá ser ignorada.

Não desvalorize os sinais que as crianças e os adolescentes nos vão apresentando porque todos os sintomas são reais.

Lembre-se que não é possível “carregar num interruptor e desligar os sintomas”. Os problemas de Saúde Psicológica não dependem da “força de vontade” , é natural que, por muito que a criança ou adolescente queira sentir-se melhor e comportar-se de forma diferente, não o consiga fazer.


Procurar ajuda é um sinal de força e não de fraqueza.

(* A redação do artigo de opinião é única e exclusivamente da responsabilidade da autora)

Dia Mundial da criança: A Importância do Brincar

Junho 1, 2021 em Atualidade, Concelho, Saúde Por barcelosnahorabarcelosnahora

Cada vez mais se reconhecem os benefícios do Brincar para o crescimento harmonioso das crianças. Brincar é uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento em quase todas as áreas.

Um dos benefícios que mais rapidamente associamos ao Brincar é o seu contributo para o desenvolvimento motor das crianças: quando o seu filho salta, corre, pedala, desenha, pinta, empilha cubos, etc. está a desenvolver as suas capacidades físicas.

Mas os seus benefícios não se extinguem aqui. O jogo ajuda também no desenvolvimento emocional do seu filho: através da brincadeira pode exprimir as suas emoções, pode comunicar sentimentos, pensamentos, necessidades e problemas. O jogo do “faz de conta” pode ajudar a reduzir sentimentos de medo, raiva, e proporcionar experiências de diversão, controlo e sucesso. No jogo o seu filho pode experimentar outros papéis, como por exemplo, ser mãe, pai, filho, médico, professor… O jogo permite-lhe ver o mundo de outros pontos de vista, ajudando-o a ser menos egocêntrico.

Pelo jogo as crianças podem aprender quem são, o que podem fazer e como se relacionar com o mundo que a rodeia; podem descobrir, explorar, usar a sua imaginação, resolver problemas e testar novas ideias. Através destas experiências exploram o ambiente que as rodeia de forma mais confiante. No jogo podem errar e explorar as suas capacidades ao limite; são livres de experimentar a sua imaginação, explorar o impossível, desenvolver a confiança nos seus pensamentos e ideias. Durante o jogo caixas, cubos ou blocos de madeira podem se transformar em casas ou palácios; as bonecas podem se transformar em mães, bebés ou até monstros.

O jogo ajuda também ao desenvolvimento das competências básicas de socialização. As crianças aprendem a partilhar e cooperar, a serem sensíveis com os sentimentos dos outros durante o jogo.

Brincar ajuda o seu filho a crescer de forma saudável e muito importante também fortalece a vossa união. Dedique um tempo especial diário para as vossas brincadeiras.

(* A redação do artigo de opinião é única e exclusivamente da responsabilidade da autora)

Foto:@daen_2chinda|unsplash

Ser mãe, uma missão para a vida, que começa no momento exato da notícia da gravidez

Maio 2, 2021 em Atualidade, Mundo, Opinião Por barcelosnahorabarcelosnahora

O conceito de maternidade surge muitas vezes confundido com o de gravidez. No entanto, os dois conceitos referem-se a realidades distintas. A maternidade vai para além da gravidez, fazendo desta transição um dos acontecimentos de vida mais marcantes em termos de desenvolvimento e que se estende ao longo da vida da mulher.

A maternidade é vista como sendo o processo de adaptação constante entre expectativas e realidades, uma vez que a mulher não carrega o bebé somente no seu ventre, mas também o carrega mentalmente.

Neste sentido, a maternidade é considerada um período de especial vulnerabilidade psicológica, uma vez que todas as mudanças envolventes conduzem frequentemente ao aparecimento de “novas” patologias psíquicas, ou então, agravamento de perturbações previamente existentes que, caso não sejam intervencionadas corretamente, tornam-se um obstáculo no processo de vinculação entre a mãe e o bebé, com repercussões no desenvolvimento da criança bem como na saúde mental materna. 

Esta transição de mulher para mulher-mãe exige grandes mudanças e adaptações ao nível biológico, psicológico, social e relacional, principalmente quando se trata do primeiro filho. É impactante quer  na vida pessoal como familiar, modificando irreversivelmente a identidade, os papéis e as funções da mãe, bem como do pai e de toda a família. Todas estas mudanças provocam stress no seio familiar, dado que estas envolvem ganhos e perdas (associados às representações de gravidez e maternidade que cada mulher possui) e por requererem respostas cognitivas, emocionais e comportamentais que normalmente não integram o repertório comportamental da mulher, exigindo uma adaptação peculiar. Torna-se, assim, fundamental assegurar o bem-estar psicológico da mulher.

A promoção da saúde mental nestas fases é imprescindível, no sentido de determinar o melhor ajustamento ao período que a mulher atravessa, bem como auxiliar no desenvolvimento de recursos e competências que possam facilitar o estabelecimento de uma relação individual e familiar saudável.         

Neste turbilhão de emoções é muito frequente ouvirmos as mulheres dizerem que “é fácil esquecermo-nos de nós”, “é muito fácil esquecermo-nos que a vida não se resume a ser mãe”, pelo que voltar a ser Mulher depois de ser Mãe nem sempre é um processo simples de alcançar, principalmente quando não existe o devido apoio especializado.

A mulher encontra-se de tal forma envolvida e dependente do novo ser, que por vezes os papéis encontram-se invertidos; as mães ficam mais dependentes dos filhos do que os filhos das mães, tornando-se quase impossível que a “Mulher” se enquadre na sua nova rotina de vida. E consequentemente esta situação torna-se nefasta para o processo de vinculação mãe-bebé, influenciando o desenvolvimento intelectual, emocional e social.

Muitas vezes, com a maternidade, as mulheres vivem apenas o papel de mãe, esquecendo-se que também são seres individuais e que precisam do seu tempo para se cuidarem e nutrir, de forma a evitar que cheguem à exaustão. A mulher sente que deixa de ter tempo para si, enquanto empreendedora, enquanto mulher independente, enquanto amante, e deixa de viver um relacionamento harmonioso e prazeroso.

A Mulher colocando-se em segundo plano levará consigo também a relação com o marido/companheiro, uma vez que se não tem tempo para cuidar de si, muito menos terá para cuidar e mimar o marido/companheiro e consequentemente, a relação ressente-se.

No meio desta nova dinâmica familiar, é difícil a mulher sentir-se bem consigo própria, sente que está sempre a falhar em alguma esfera e que não consegue atender a todas as necessidades.                

O mito de que “é possível ser-se a mãe, esposa, familiar e amiga perfeita”, não passa de uma utopia perpetuada por mulheres frustradas que levam a que outras mulheres se sintam ainda mais frustradas por acreditarem neste mito. Porém é muito fácil deixar-nos tomar pela culpa e pela angústia, e é nesta fase crítica que o mau-estar leva a que os problemas psicológicos se revelem com mais frequência, sendo ainda mais provável quando a mulher tem problemas já desde a gravidez e pós-parto (ex: Depressão pós-parto).

Caso se encontrem nesta situação é urgente que procurem ajuda; a maternidade tem muito de belo, mas é uma transição para um mundo novo, muito atribulado, povoado de incertezas e inseguranças.

(* A redação do artigo de opinião é única e exclusivamente da responsabilidade da autora)

Mês de Março: o mês do pai. “A importância do pai no desenvolvimento dos filhos”

Março 13, 2021 em Atualidade, Concelho, Mundo, Opinião Por barcelosnahorabarcelosnahora

Sempre se ouviu falar da vinculação mãe-bebé, principalmente, nos primeiros tempos de vida da criança, como sendo um dos fatores mais importantes para o seu desenvolvimento saudável. A figura paternal é sempre vista como secundária e menos relevante no desenvolvimento das crianças. No entanto, o papel do pai é tão importante como o da mãe. Vou explicar o porquê.

A figura paterna continua a ser vista como uma figura de vinculação secundária, algo que é importante desmistificar.

A relação de vinculação é definida como um laço emocional forte que se estabelece por volta dos 7/8 meses de idade da criança e que permite criar uma relação privilegiada entre a criança e uma ou mais figuras estáveis na sua vida. Esta relação vai sendo construída ao longo do desenvolvimento da criança e, consequentemente, quando criadas num ambiente estável, sensível e responsivo, irá desenvolver uma vinculação segura.

Neste sentido, entende-se que as crianças ficam vinculadas tanto aos pais como às mães, desde que nascem.

O papel de Pai é distinto e complementar ao papel da mãe. Ambos contribuem para uma maior flexibilidade mental e adaptativa no desenvolvimento da criança. Por norma, as mães estão mais associadas à prestação de cuidados básicos e os pais a interações lúdicas, o que é uma mais valia para a criança, que acaba por ser estimulada de formas diferentes.

Contudo, ao longo do tempo tem-se observado cada vez mais à cessação desta distinção, devido às alterações sociais e da forma como os papeis parentais são representados e vividos atualmente. No entanto, apesar desta reestruturação do papel dos pais, hoje e sempre, a importância da figura paterna na vida de uma criança mantém-se. Neste sentido, o envolvimento do pai, a sua participação ativa e a afetividade na vida da criança, influenciam o desenvolvimento intelectual, emocional e social, promovendo a segurança, autoestima, resistência às frustrações e autonomia. Esta criança tornar-se-á assim um adulto resiliente, seguro, prudente e mais feliz.

Pelo que é importante ressaltar aqui que a presença do pai jamais poderá ser delegada ou compensada por bens materiais (brinquedos, roupas, viagens ou outros). Se por algum motivo o pai biológico não puder estar presente na vida da criança, é importante que outra figura masculina ocupe este lugar (avô, tio ou outro adulto).

MAIS TARDE, NA FASE DA ADOLESCÊNCIA, OS FILHOS VÊM A FIGURA PARENTAL COMO UM MODELO PARA SE IDENTIFICAR E, NO CASO DAS MENINAS, PARA SUA AUTOESTIMA E SEGURANÇA.

Algumas dicas para os pais:

– Desde o nascimento do bebé, seja proativo e partilhe os cuidados básicos com a mãe: dê banho, troque fraldas, coloque para dormir;

– Converse com os pediatras, professores e profissionais que acompanham o seu filho;

– Mantenha-se presente nas rotinas dos seus filhos;

– Proporcione momentos de aprendizagem e de estímulos de qualidade;

– Mantenha uma boa comunicação: partilhe os seus sentimentos, questione acerca das suas necessidades físicas, emocionais, escolares, entre outras.  

PARTE DE CADA UM DESCONSTRUIR A IDEIA ERRADA DE QUE APENAS A MÃE É IMPORTANTE PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA.

(* A redação do artigo de opinião é única e exclusivamente da responsabilidade do autor)

Foto: @jule_42|unsplash

Ir Para Cima