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Compostagem! O que é e qual a sua utilidade?

Dezembro 21, 2021 em Ambiente, Atualidade, Concelho Por barcelosnahorabarcelosnahora
Pedro Carteiro

O tema dos resíduos (vulgo “lixo”) não é um tema propriamente agradável e que atraia atenções. Mas, prometo que com este artigo, o primeiro de um punhado até se esgotar o tema “compostagem”, vai ser diferente. Entreguem-se à sua leitura, que até momentos de suspense vão encontrar!

O Decreto-Lei n.º 103/2015, de 15 de junho, emitido pelo Ministério da Economia, que estabelece as regras a que deve obedecer a colocação no mercado de matérias fertilizantes, tem a seguinte definição:

«Compostagem», a degradação biológica aeróbia dos resíduos orgânicos até à sua estabilização, produzindo uma substância húmica, designada por composto, utilizável como corretivo orgânico do solo.”.

Do processo de compostagem pode formar-se:

a) Composto fresco – Produto resultante do processo de compostagem, em que a fração orgânica sofreu uma decomposição apenas parcial. Tem de estar higienizada, mas uma vez que o processo de estabilização não está concluído, pode ainda ocorrer libertação temporária de fitotoxinas.

b) Composto maturado – Produto resultante do processo de compostagem aeróbia, em que a fração de matéria orgânica está higienizada e em adiantada fase de humificação ou de estabilização. A sua biodegradabilidade reduziu-se de tal forma que é negligenciável o seu potencial de produção de fitotoxinas e de calor.

Por outras palavras, a Compostagem é um processo de reciclagem de matéria orgânica, 100% natural, realizado através de microrganismos que transformam os biorresíduos (no caso dos resíduos urbanos, os das nossas casas, são os restos de preparação e consumo de refeições, da horta ou jardim) num material rico em nutrientes, a que se chama composto. Este processo tem ainda a vantagem de destruir os organismos patogénicos.

Na realidade, a Compostagem é uma inevitabilidade da Natureza. É essa a forma que ela encontra para fazer a reciclagem, nomeadamente das folhas, ramos, excrementos de animais, etc., devolvendo, deste modo, os nutrientes ao solo.

Na verdade, a Compostagem é um processo tão simples que deve ser utilizado por todas as famílias na reciclagem dos seus biorresíduos.

A compostagem tem sido aplicada, ao longo dos séculos até ao momento, no tratamento de resíduos biodegradáveis de várias fontes, nomeadamente agrícolas, agroindustriais, estações de tratamento de águas resíduos (ETAR, as lamas) etc.

Se “olharmos” para o conteúdo do nosso “caixote do lixo”, facilmente entendemos o potencial da aplicação da compostagem. Pois, este processo de tratamento (nas diferentes escalas possíveis, que trataremos aqui noutro artigo) pode ser uma solução ambientalmente sustentável para cerca de 40% dos resíduos urbanos, das nossas casas. O gráfico seguinte ajuda-nos a compreender o que foi referido.

Gráfico 1 Resultados da caracterização física média dos RU produzidos no Continente em 2020 (fonte: APA – Agencia Portuguesa do Ambiente)

Só para terem uma ideia da dimensão da quantidade de biorresíduos produzidos em Portugal, podemos afirmar que em 2020 foram mais de 2 milhões de toneladas! Os biorresíduos quando depositados em aterros sanitários vão provocar a libertação de gases causadores de efeito de estufa (o CH4, gás metano) e contribuir para a produção de lixiviados (líquido altamente poluente de difícil tratamento), para além de emissão de odores desagradáveis.

Resumindo, a Compostagem permite tratar resíduos orgânicos de várias fontes, incluído os produzidos nas nossas casas (biorresíduos), evita a emissão de poluentes (em forma gasosa e líquida) e que no final resulta um produto higienizado (sem patogénicos) útil para o solo, que pode ser utilizado na horta, jardins etc. Noutro artigo, oportunamente, vamos explorar ao pormenor todas as vantagens da compostagem.

O próximo artigo vai ser sobre os fatores imprescindíveis para que o processo de compostagem aconteça, ou que ocorra da melhor forma possível. E também como aprendi isso quando vivi na aldeia com a minha avó paterna (saudades, partiu em 2020), dos 5 aos 11 anos, e que tive oportunidade de ver uma esterqueira (como se diz na zona de Castelo Branco, ou estrumeira. Na prática, uma das muitas maneiras de se formar uma pilha de compostagem) a “parir” pintainhos, que estavam (no ovo) órfãos de uma galinha poedeira (ficaram confusos? Depois eu explico tudo). Estejam atentos, pois vão aprender muito de uma forma divertida e prática!

Documentos consultados:

Agência Portuguesa do Ambiente, “Dados sobre resíduos urbanos”, https://apambiente.pt/residuos/dados-sobre-residuos-urbanos, acedido a 19 de dezembro de 2021.

CARTEIRO, Pedro; Avaliação da vermicompostagem no tratamento de resíduos urbanos e a sua influência na qualidade do composto produzido. Lisboa: FCT – UNL, 2009.

Decreto-Lei n.º 103/2015 de 15 de junho. Estabelece as regras a que deve obedecer a colocação no mercado de matérias fertilizantes, assegurando a execução na ordem jurídica interna das obrigações decorrentes do Regulamento (CE) n.º 2003/2003, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 13 de outubro de 2003, relativo aos adubos. Diário da República, 1.ª série — N.º 114 — 15 de junho de 2015.

Por: Pedro CARTEIRO, Consultor & Formador

Investigadores criam embalagens comestíveis a partir de resíduos agroalimentares

Abril 26, 2021 em Ambiente, Atualidade, Ciência, Portugal Por barcelosnahorabarcelosnahora

Uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra (UC), com a colaboração da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), desenvolveu embalagens comestíveis a partir de resíduos do setor agroalimentar e da pesca, anunciou hoje a UC.

As embalagens comestíveis, que constituem “uma alternativa sustentável ao plástico”, são “filmes obtidos a partir de resíduos de diferentes alimentos, nomeadamente de cascas de batata e de marmelo, fruta fora das características padronizadas e cascas de crustáceos”, explicita a UC, numa nota hoje divulgada.

“Além de revestirem os alimentos, prolongando a sua vida útil na prateleira do supermercado”, as embalagens também “podem ser ingeridas”.

Os novos invólucros criados por Marisa Gaspar, Mara Braga e Patrícia Almeida Coimbra, do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC), foram “pensadas essencialmente para revestir frutas, legumes e queijos, incorporando na sua matriz compostos bioativos/nutracêuticos, tais como antioxidantes e probióticos, com potenciais efeitos benéficos para a saúde”.

Com esta embalagem, é possível, por exemplo, “cozinhar brócolos ou espargos sem ser necessário retirar a embalagem, uma vez que a película que os envolve é composta por nutrientes naturais com benefícios para a saúde”.

“Produzimos composições diferenciadas de filmes, usando os resíduos quase integralmente, que contêm compostos com propriedades diferentes”, explicam Marisa Gaspar, Mara Braga e Patrícia Almeida Coimbra.

“A casca de batata tem mais amido e a casca de marmelo mais pectina, ou seja, temos dois materiais poliméricos estruturais que, combinados, vão gerar um filme simples, sem processamentos complexos”, exemplificam as investigadoras.

No entanto, antes de conseguir obter filmes/revestimentos, quer na forma de película, quer na forma de ‘spray’ (aplicado na fase líquida e seca no alimento), a equipa, que juntou vários grupos de investigação da UC e da ESAC, teve de superar várias fases.

“O maior desafio é encontrar os materiais ideais para que as formulações tenham as características desejadas”.

Por isso foi necessário, relatam as investigadoras, “estudar os filmes do ponto de vista físico, como por exemplo as propriedades mecânicas, de forma a servirem de embalagem/revestimento; estudar as propriedades bioativas dos filmes, ou seja, se alguns compostos apresentam benefícios para a saúde quando ingeridos; avaliar as reações quando se juntam diferentes compostos”; analisar microbiológica e sensorialmente os filmes selecionados e “avaliar a compatibilidade do alimento com o sistema comestível produzido”, resumem, citadas pela UC, as três investigadoras da FCTUC.

A solução proposta pela equipa de Marisa Gaspar, Mara Braga e Patrícia Almeida Coimbra pode ser “muito vantajosa tanto para indústria como para o consumidor”, sustentam.

“É uma abordagem centrada na economia circular. Não só aumenta a vida útil do produto na prateleira, como também evita o desperdício, reduz a produção de lixo plástico, um grave problema ambiental, e gera um novo produto que confere um adicional nutritivo ao alimento”, concluem as investigadoras.

Iniciada em 2018, no âmbito do projeto MultiBiorefinery, financiado pelo COMPETE 2020, esta investigação foi recentemente distinguida com um prémio de 20 mil euros pelo programa Projetos Semente de Investigação Interdisciplinar – Santander UC (atribuído a equipas multidisciplinares lideradas por jovens investigadores na UC).

Foi ainda premiada no concurso de ideias LL2FRESH, que visa procurar novas soluções de embalagem, métodos de tratamento de alimentos e aditivos de última geração, refere a UC.

No âmbito deste projeto foi publicado um artigo científico na revista Food Packaging and Shelf Life.

Fonte: Lusa

Foto:@agenlaku|unsplash

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