Ucrânia: a Guerra Híbrida

Ao leitor tenho que informar que este artigo não é sobre táticas militares. Nem tão pouco vou aprofundar a questão diplomática entre a Ucrânia e a Rússia. Deixo esse conteúdo para analistas e profissionais da área. Contudo, não posso ser alheio a tudo que se passa em redor da invasão de Vladimir Putin ao segundo maior país do continente Europeu. No terreno já não se fala apenas de um combate fisico, com uso exclusivo de armas, mas também no campo digital.
E porquê? Porque o próprio formato das guerras vão se adaptando à evolução bélica e tecnológica dos próprios intervenientes. Era inamaginável se o Código Morse, bem como, os conceitos táticos da 1ª Guerra Mundial (tornou-se conhecida durante muito tempo como “A Grande Guerra”) – 1914 a 1918 -, fossem aplicados, por exemplo, no terreno ucraniano em pleno século XXI. Ou então, a utilização de material militar da 2ª Guerra Mundial – 1939 a 1945 – dos aliados que contrariou o sofisticado armamento alemão. Por exemplo, Hitler detinha os famosos Panzers que naquela época eram um dos mais avançados tanques de guerra [1]. Foi também nesta altura que se introduziu pela primeira vez os radares (ou também conhecida tecnologia RFID) tanto pelos aliados como pelos países do eixo (União Soviética e Alemanha) para detecção de aviões de forças inimigas. O problema residia na identificação desses aviões. Não era possível saber se quem chegava era inimigo ou aliado [2]. Outros exemplos de teatro de guerra podiam ser mencionados. Mas como é a terceira vez que existe conflitos dentro do continente europeu (na era moderna) considerei-os relevantes para entendermos como a tecnologia tem tido um papel fundamental entre os oponentes. Portanto, uma vez atingido o auge tecnológico e das comunicações, com a guerra na Ucrânia uma nova terminologia emerge: a Guerra Híbrida.
Podemos considerar que esta guerra tem duas frentes: a guerra convencional ou “tradicional” e a moderna ou “guerra da 4ª geração”. Segundo o Sargento Ajudante de Infantaria no Exército Português Fernando D´Eça Leal, na revista portuguesa Revista Militar [3], define a guerra tradicional como: «forma de guerra entre estados usando o confronto militar directo para vencer as forças armadas do adversário, destruindo a capacidade do adversário de fazer a guerra, ou tomam ou retêm o território a fim forçar a mudança no governo ou políticas do adversário. O foco de operações militares convencionais é, normalmente, as forças armadas do adversário, com objectivo de influenciar o governo adversário.» Enquanto, a Guerra da 4ª Geração no ponto de vista do Comodoro Luís Nuno da Cunha Sardinha Monteiro [4], Diretor de Recursos do Estado-Maior da Armada, «centrasse nas modernas tecnologias, qualquer coisa como a network centric warfare (que podemos traduzir por “guerra em rede”) ou a information age warfare (traduzível por “guerra da idade da informação”).». Reforçando a ideia que o futuro combinará estas duas formas distintas de conflitualidade até porque os saltos geracionais precedentes também foram sempre muito influenciados pela introdução de inovações significativas.
Cai por terra as velhas táticas militares que conhecemos e que são insuficientes para dizimar um país e, portanto, o Estados também ficam em causa se não protegerem o seu espaço cibernético. À luz daquilo que temos visto na generalidade da comunicação social isto é comprovável pela participação neste conflito de instituições ou grupos anónimos improváveis. Pela primeira vez na história, a União Europeia vai financiar a compra e entrega de armas e outro tipo de equipamento militar a um país sob ataque [5]. Não menos interessante, o grupo hacker Anonymous declara guerra cibernética à Rússia, em defesa da Ucrânia [6]. A Facebook e o Twitter removeram contas de desinformação direcionadas a ucranianos por parte do russos [7]. Com o objectivo de desligar os ucranianos do mundo, a Rússia fez uma ataque em simultâneo a nivel terrestre e digital em diversos pontos do território ucraniano, incluindo em Kiev, de forma a que os serviços de internet começassem a falhar [8]. Por outro lado, para colmatar o danos de comunicação no terreno, o bilionário da SpaceX, Elon Musk, disponibilizou o serviço de banda larga por satélite Starlink (um dos melhores serviços de rede de comunicação da atualidade) à Ucrânia [9]. Elucidativo.
Em 2019, num evento da Ordem de Engenheiros rodeado por especialistas na área Cibersegurança, já tinha levantado a seguinte questão: “Não fará sentido existir um Ministério da Defesa e da Cibersegurança?”. Esta guerra está a dar a verdadeira resposta.
Referências
[2] – https://www.gta.ufrj.br/grad/10_1/rfid/historia.html
[3] – https://www.revistamilitar.pt/artigo/671
[4] – https://www.revistamilitar.pt/artigopdf/1288
[9] – https://exame.com/mundo/elon-musk-reestabelece-internet-na-ucrania-via-starlink/
Por: Luis Rosa